Jogos ... de cartas.

Tenho especial apreço por uma boa partida de cartas, com amigos, numa sexta ou sábado em que passamos madrugada inteira a brindar, a rir, a mandar piadas que só têm sentido naquele contexto.
Mas a minha aptidão para jogos de cartas… melhor dizendo o meu gosto por jogar às cartas é algo imputável a minha adolescência, naquela fase em que as hormonas andavam aos pulos, aos tempos em que aprendia a jogar “Kiss me”(um jogo de cartas), em que tínhamos de ter um (a) parceiro (a) e que apesar do nome não obrigava ninguém a se beijar, mas sim a conseguir emparelhar cartas e fazer um sinal secreto assim que o conseguisse-mos fazer ao nosso (a) parceiro(a) de jogo e que o(a) levasse a gritar KISS ME.
Foi ao aprender esse jogo que aprendi a jogar outro. Foi nesse jogo que encontrei mais do que um parceiro para jogar às cartas, e foi nesse jogo que iniciamos um estilo muito nosso de jogar, a dissimulação perante os outros enquanto as pernas e os pés exploravam por debaixo da mesa, os saltos repentinos quando algum de nós perdia a faculdade de auto-controlo (porque aquele lugar, aquele ali bem escondidinho tinha sido estimulado), o facto de sermos sempre nós a nos afastarmos da mesa e a sair do campo de visão para que os outros pudessem combinar o sinal deles no final de cada partida. E nós que muitas vezes nem sinal tínhamos e perdíamos com o jogo na mão porque demorávamos na sofreguidão dos corpos e o resto a mente esquecia. Dava-me por feliz por ainda termos o sangue frio de mostrar a cabeça na porta entreaberta para pedir mais uns segundos porque estávamos a ter alguma … dificuldade… rogando para que eles não tivessem ainda descoberto o sinal maravilha deles, nem o que se estava a passar entre nós. E naquele par de minutos entre cada partida, entre a dificuldade da roupa vestida e da felicidade de ser verão, aprendi a jogar. Aprendi a moldar outra pessoa ao que eu gostava, porque a urgência e a excitação é inimiga da timidez, e unicamente nesses momentos soltava-me, porque não havia tempo. Foi nessa altura que aprendi a deixar um homem em ponto de rebuçado somente no acto de abrir um fecho ainda a andar para o nosso “recanto” e depois tê-lo nas minhas mãos antes da porta encostar e em menos de minuto e meio num beijo dizer: “Vá, guarda isso! Temos de ir!”, e dize-lo com um sorriso de orelha a orelha, virar-me, ser agarrada por uma pessoa em pânico, soltar-me com ternura e sorrir ainda mais, e ir de encontro aos outros a imaginar onde raio poderia um rapaz de calções curtos esconder o tamanho (e desculpem-me dizer, mas era bemmm favorecido) da sua excitação … Já nos conhecíamos antes, já tínhamos “jogado” antes, mas nunca com esta intensidade, nunca com esta urgência … nunca tinha eu antes tido o integral controlo da situação, na clandestinidade assumida pelos dois. Muitos nesta posição detestariam estar numa situação que demorava muito a culminar, nós pelos vistos adorávamos e passamos um verão nisto.
E o nosso encontro físico estava marcado á mesa, á frente de um baralho de cartas!